Livros “A Peste” de Albert Camus e “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago

Livros “A Peste” de Albert Camus e “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago

No quadro atual em que a condição humana está fragilizada e a reação ao medo é uma constante, trazemos a lume duas obras representativas da resistência humana perante uma calamidade - “A Peste” de Albert Camus e “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago.
 
 
Publicado em 1947, o romance “A Peste” de Albert Camus destaca a mudança na vida da cidade de Orão depois que ela é atingida por uma terrível peste, transmitida por ratos, que dizima sua população. É inegável a dimensão política deste livro, um dos mais lidos do pós-guerra, uma vez que a cidade assolada pela epidemia lembra a ocupação nazista na França durante a Segunda Guerra Mundial. A peste é uma obra de resistência em todos os sentidos da palavra. Narrado do ponto de vista de um médico envolvido nos esforços para conter a doença, o texto de Albert Camus ressalta a solidariedade, a solidão, a morte e outros temas fundamentais para a compreensão dos dilemas do homem moderno.
 
Livro “A Peste” de Albert Camus
 
 
Sinopse:
Na manhã de um dia 16 de abril dos anos de 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas.
Uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e a resiliência do ser humano, A Peste é uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído que, publicado originalmente em 1947, consagrou em definitivo Albert Camus como um dos autores fundamentais da literatura moderna.
 
Biografia:
Albert Camus nasceu em 1913, em Mondovi, na Argélia, hoje conhecida como Dréan, então colónia francesa. Formou-se em filosofia na Universidade da Argélia, em 1935 e fundou o “Teatro do Trabalho”. Foi membro do Partido Comunista Francês e escreveu em jornais socialistas. Em 1939 mudou-se para a França. Lá casou-se com Francine Faure e colaborou para a publicação Paris-Soir. Em 1942 publicou dois de seus livros mais importantes, O Estrangeiro e O Mito de Sísifo. Segundo muitos críticos, a ideia do absurdo da existência humana, formulada nestas obras, foi a maior contribuição de Camus para a filosofia. Engajou-se na Segunda Guerra Mundial como editor do jornal clandestino Combat. Em 1947 publicou A Peste, romance traduzido para o português pelo escritor Graciliano Ramos. Entre 1949 e 1951, Camus viveu recluso, enfraquecido por causa da tuberculose, doença que contraíra em 1930. Publicou ainda O Homem Revoltado (1951), obra que provocou sua rutura com Sartre. Um dos escritores mais lidos do século XX, Albert Camus recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1957. Morreu em 1960, vítima de um acidente de carro.
 
 
 
 
No romance "Ensaio sobre a Cegueira", publicado em 1995, José Saramago afirmou que “este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é necessário termos coragem para o reconhecer”.
Na visão do autor, o ser humano, moralmente e culturalmente é selvagem, egoísta e dominado por apetites bárbaros. Saramago pretende demonstrar com o livro “Ensaio Sobre a Cegueira” que o ser humano, bárbaro e animalesco, precisa de ser controlado, os seus apetites precisam ser domados e precisa da ordem e da justiça social que apenas o comunismo pode garantir.
 
Livro “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago
 
 
Sinopse:
Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira coletiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.
 
 
Biografia:
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, em Portugal, no dia 16 de novembro de 1922. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas na aldeia natal.
O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,  Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista  Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura. José Saramago faleceu a 18 de junho de 2010.
 
 
 
 
Publicado em 27-03-2020