A UCCLA acolheu a apresentação do livro “Quo Vadis Angola? - Socio-Tecnologias Teo-Sociologias 1967-2018” de Fernando dos Santos Neves, no dia 26 de novembro.
O Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho, que prefaciou o livro, começou por dar a conhecer a vida do autor, Fernando Santos Neves, e da relação de amizade que os une. “Muito ligado à realidade ecuménica, sobretudo na altura a igreja católica progressista angolana, de tal forma que chegou a dirigir o Instituto Católico angolano nos idos de 67. Tomou posições em defesa da liberdade e da independência de Angola e isso conduziu a ter de ser exilado, por determinação do governo então provincial de Angola. A seguir ao 25 de Abril veio para Portugal, deu um contributo na determinação para a formação de uma universidade privada, de que foi o primeiro reitor, da Lusófona”.
Vítor Ramalho falou sobre o futuro de Angola relembrando que “Portugal é o único caso singular, de um país europeu que conquistou territórios africanos e que teve, de alguma maneira, uma luta comum na persecução dos objetivos da liberdade e da independência desses povos e países”, falou do 25 de Abril e dos movimentos de libertação.
Concluiu, afirmando que “as soluções de futuro são soluções que não são imediatas, são morosas. Tem que haver aqui uma clarificação estratégica muito clara a partir desta data. A esperança não morreu, pelo contrário, em Angola as soluções anteriores eram difíceis de serem prosseguidas, por todo este quadro, como é evidente. O que nós temos que fazer, sobretudo aqui em Portugal, é ajudar a consolidar essa mudança e prestar todo o contributo que possamos dar a vários níveis. Esses níveis são, sobretudo, na minha perspetiva, aquilo em que nós sabemos e mais ninguém sabe fazer, que é, não só a língua, claro, mas também o know-how que temos na saúde, na educação, na agricultura, e estabelecer projetos que sejam correspondidos pelos angolanos e que sejam desejados por eles.”
Esaú Dinis fez uma pequena apresentação sobre si próprio e o seu primeiro contacto com Luanda, em 1960.
“Quo Vadis Angola?” é um livro que “condensa material de várias publicações, ao longo de 5 décadas. Até lhe assentaria bem a palavra antologia, miscelânea, selecta ou, mais rebuscado e simbólico florilégio”, um livro que fala das origens, protagonismos, mas que “identifica o mal e aponta caminhos”. As opiniões são várias sobre a real designação do livro agora apresentado, por envolver “teologia, ética, moral, geopolítica, história, antropologia, linguística, alguma sociologia, epistemologia, pensamento contemporâneo, ensaios de diversa índole… Bastante hermenêutica, persistente e dominante dimensão pastoral e social, até teoria da missionação, com aplicabilidade a África, em pano de fundo e de mundo específico e vivenciado, Angola, com epicentro no triângulo Nova Lisboa/Huambo, Lobito e Luanda.”
Para Esaú Dinis “Quo Vadis Angola?” é livro “veículo inicial de 1967/68 que, com o decorrer dos anos, ganhou densidade e amplitude. Sem deixar de preservar um fio de ligação temporal, adquiriu maior pragmatismo e determinação, o que permite afirmar que estamos face a um registo intencional, para este nosso tempo e tempos futuros.”
Manuel de Almeida Damásio começou por relembrou como conheceu com o autor. Relativamente à obra, afirmou que “ficará como um estudo ou uma coletânea, ou selecta de intervenções do mais alto alcance, também traduzidas numa transformação e numa grande mudança tanto em Portugal, como em Angola.”
Para o autor Fernando Santos Neves este é um “livro muito atual e um livro de futuro”. Relembrou o que escreveu no seu primeiro livro, em 1967, onde fazia uma alusão a Luandino Vieira, no seu livro “Luanda”, onde refere: “já pus minha história, se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro que falei verdade e que estas coisas aconteceram nesta nossa terra de Luanda”, para acrescentar o seu “empenho na Angola do presente e do futuro, gostaria e certamente há essa intenção… Eu ao menos gostaria que houvesse essa intenção, que o novo Presidente da República, João Lourenço, também dissesse: “já pus minha história, se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro que procurei falar a verdade e que estas coisas acontecerão na nossa terra de Angola.”
No decorrer da sessão houve declamação de poemas pela moçambicana Elsa de Noronha.
Biografia:
Fernando dos Santos Neves é natural de Foz do Sousa - Gondomar-Porto (1932), é doutor em Filosofia/Teologia e Ciências Sociais Aplicadas/Pensamento Contemporâneo pela Universidade Gregoriana de Roma, pela Universidade de Salamanca e pela Universidade Nova de Lisboa. É fundador e 1º Reitor do Instituto Superior Católico de Angola (1967), da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa (1991-2006) e da Universidade Lusófona do Porto (2007-2012); foi Professor de Ciências Políticas na Universidade de Paris VIII (Vincennes), vindo a criar a 1ª Licenciatura de Ciência Política em Portugal (1991) bem como a 1ª Licenciatura de Ciência das Religiões (1998) e o 1º Mestrado em Espaço Lusófono: Cultura, Economia e Política; estruturou nas Universidades Portuguesas a transversalíssima unidade curricular “Introdução ao Pensamento Contemporâneo” (IPC) e a 1ª Unidade de Estudos e Investigação “Ciência, Tecnologia e Sociedade” (UEICTS); lançou as “Semanas Portuguesas de Teologia” (1962), as “Semanas Sociológicas” (1989), a “Sociedade Africanológica de Língua Portuguesa” (SALP/1991), a “Associação dos Cientistas Sociais do Espaço Lusófono” (ACSEL/1994), a “Editorial Colóquios” (Angola, 1968), as “Edições ETC” (Paris, 1973), as “Edições Universitárias Lusófonas” (Lisboa, 1992), a “Editorial Clérigos” (Porto, 2014), a “Kairologia Editora” (Lisboa, 2015) e a K Editora (2017) bem como as “Revistas Lusófonas” de “Humanidades e Tecnologias” (ULHT, Grupo Lusófona), de “Ciência Política e Relações Internacionais” (RES-PUBLICA), de “Ciências Sociais” (CAMPUS SOCIAL), de “Estudos Africanos“ (AFRICANOLOGIA) e do “Pensamento Contemporâneo” (KAIRÓS); em homenagem à famosa 11ª Tese de Marx: “Até aqui os filósofos têm-se contentado em interpretar o mundo de diversas maneiras, mas importa também transformá-lo!”, é autor de várias “ONZE TESES… sobre o Ensino Superior, a Lusofonia, a Regionalização, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, etc.”; é considerado o pai teórico da “Lusofonia” (cuja palavra terá feito entrar no vocabulário da Língua Portuguesa) e é autor da “Declaração de Luanda” (Abril 2002) para a criação do “Espaço Lusófono do Ensino Superior” (ELES), á imagem e semelhança da “Declaração de Bolonha” e do “Espaço Europeu de Ensino Superior” (EEES), de que foi, em Portugal, um dos mais destacados pioneiros; proposto ao “Prémio Pessoa” em 1994, 1998 e 2017; “Medalha de Ouro para Portugal” do “American Biographical Institute” em 2008; anunciou, em 2016, a abertura do omnitotidimensional “Espaço Cultural Livros Etcetera”. Desde os anos 60 do século XX que, com os novos termos “Kairologia”, “Refontalização” e “Aggiornamento” vem chamando a atenção para as “Horas Certas” das inadiáveis modernizações das Igrejas e das Sociedades Lusófonas (Concílio Vaticano II, Ecumenismo, Maio 1968, Descolonização, 25 Abril 1974, 10 novembro 2015, “União Europeia”, “CPLP/Comunidade Lusófona”, “Alter-Globalização” etc.). E também desde há anos que desafia a CPLP a instituir o “PRÉMIO LUSOFONIA”, a atribuir anualmente a Personalidades ou Instituições que se hajam notabilizado, em qualquer dos aspetos da atividade humana, na construção efetiva da realidade socio-economico-político-cultural da Comunidade Lusófona. Um velho jornalista português em França publicitou há pouco (2017) um provocador escrito intitulado “Já leu Fernando dos Santos Neves? Se ainda não leu, então leia”!