Lisbon Talk debateu “Angola: que mudança?” na UCCLA
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Lisbon Talk debateu “Angola: que mudança?” na UCCLA
Publicado em 20-11-2018
Os principais desafios e mudanças que se colocam a Angola, face às dinâmicas internas e ao contexto internacional, foi o mote do debate “Angola: que mudança?” na UCCLA, no dia 19 de novembro, entre Alex Vines e Luís Todo Bom, com moderação do jornalista Ricardo Alexandre.
 
Tratou-se de uma iniciativa do Clube de Lisboa (Conferências de Lisboa) e da UCCLA, com o apoio do Instituto Marquês de Valle Flôr e da Câmara Municipal de Lisboa.
 
O Secretário-Geral da UCCLA, Vítor Ramalho, saudando todos os presentes, agradeceu a participação de Alex Vines, que veio propositadamente da Inglaterra para fazer esta conferência, ao engenheiro Luís Todo Bom e a Ricardo Alexandre. “São personalidades muito conceituadas que acompanham esta situação de Angola há bastantes anos e aproveitando a oportunidade da presença do Presidente João Lourenço, em Portugal, nós não poderíamos deixar de fazer este evento”.
 
Relativamente a este debate, o responsável afirmou “falando na esperança do futuro de Angola, na componente política, de que o Alex Vines é um grande professor universitário e na componente económica, do Luís Todo Bom. Aqui o nosso amigo, Ricardo Alexandre, será moderador. Esta parceria da UCCLA e do Clube de Lisboa tem naturalmente implicações de várias naturezas e também a utilização destas instalações aqui da UCCLA”.
 
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O moderador Ricardo Alexandre, jornalista e diretor adjunto da TSF, começou por sustentar que “Angola atravessa um momento complexo, desde logo, do ponto de vista económico, como sabemos está a ultimar as negociações para um programa de financiamento, junto do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sabemos que está com uma questão complexa em termos de dívida pública, consome mais de 70% do PIB, o desemprego é assumido como um problema importante no país. Sabemos que o Presidente iniciou uma vaga de reformas e de mudanças em vários sectores da sociedade mas, desde logo, tendo como provavelmente, um desejo mais crucial, o combate à corrupção. Que é assumido como prioridade política e isso obviamente que tem impacto no discurso e na forma como o discurso é apreendido pela opinião pública”. 
 
Para debater as mudanças em Angola foram convidados “dois conhecedores da realidade angolana. O Alex Vines é diretor de investigação e diretor para a África, do Royal Institute of International Affairs da Chatham House, em Londres. Foi presidente do Grupo de Peritos das Nações Unidas sobre a Costa do Marfim e antes membro do Grupo de Peritos sobre a Libéria. Foi investigador sénior na Human Rights Watch, é professor convidado da Universidade de Conventry. As áreas de investigação, preferenciais, são a Política e a Segurança na África Subsariana, os Poderes Emergentes e as Políticas da União Europeia e do Reino Unido para África, bem como as Industrias Extrativas e Investimento em África. O professor Luís Todo Bom é Professor Convidado da Universidade Europeia, Manager&Partner da Angopartners, Investment Consulting e também presidente não executivo da Multitel Angola. É administrador não executivo de várias outras empresas, é também membro do Fórum para a Competitividade. Foi professor convidado do ISCTE e foi Secretário de Estado da Indústria e Energia no X Governo Constitucional, entre 1985 e 1987”. 
 
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Para Alex Vines “passou cerca de 1 ano e alguns meses desde que João Lourenço tomou posse enquanto Presidente de Angola. Esta transição foi complicada, mas foi uma transição muito mais suave face a outras transições que ocorreram no sul de África”, acrescentando que “a mudança em Angola é muito mais complexa. A realidade é que a economia é o principal motor da mudança de Angola”, uma vez que “a economia angolana é dependente do petróleo”.
 
Alex Vines falou da deterioração da relação entre José Eduardo dos Santos e João Lourenço, a partir do final de 2017, da discórdia sobre a data do Congresso Extraordinário do MPLA, da transferência e substituição de “funcionários-chave”, de algumas reformas levadas a cabo por João Lourenço, dos principais destinos de exportação, do peso da dívida que demonstra que o “governo angolano precisa de continuar a procurar novas fontes de dinheiro”.
 
Para Alex Vines “o governo angolano precisa de Eurobonds, porque no curto e médio prazo, o petróleo ainda está a ser produzido, então os investidores são positivos em relação a Angola a curto prazo. Mas também significa que Angola terá de recorrer ao FMI, e as discussões sobre o desenvolvimento fazem-me crer que, de momentos, a questão existe em torno do governo angolano se tornar mais realista quanto ao seu endividamento. Angola está a subestimar o peso da dívida. A indústria do petróleo também me diz que o governo angolano também está a desconsiderar o declínio do petróleo, dizem que 8% é optimista e o declínio deste ano é maior do que isso. Estes são grandes problemas em Angola, porque até que o governo angolano desenvolva uma estratégia em como diversificar a sua economia, a história continua a ser muito sobre o petróleo.” “Angola está a planear as primeiras eleições municipais, autárquicas, em 2020. Para tal é necessário dinheiro e, por isso, estas são questões estratégicas fundamentais para a administração de Lourenço, incluindo a necessidade de reformar a companhia petrolífera estatal, a Sonangol.”
 
“Outro fator a ter em consideração é o de como as tecnologias internacionais tem efeitos nas coisas. As exportações de petróleo angolano para os EUA foram desaparecendo, mais ou menos. Isso mostra que, à medida que as economias mundiais se alteram, em parte pela inovação tecnológica, elas podem ter impactos estratégicos muito sérios, e o caso de Angola é um deles. O que demonstra que a China, por ainda não possuir petróleo e porque Angola continua profundamente estratégica, mantem um relacionamento profundo e reformulado com Angola na administração de Lourenço.”
 
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Luís Todo Bom iniciou por dizer que iria apresentar “um programa de desenvolvimento produtivo, porque o problema de Angola é o seu aparelho produtivo. Angola não produz praticamente nada, importa praticamente tudo o que consome”, destacando um conjunto de considerações. A primeira é que “Angola não é um país rico. Quanto mais depressa os angolanos se convencerem que Angola não é um país rico, melhor. Angola é um país pobre. Tem muitas potencialidades, tem uma enorme riqueza, tem tudo, tem: petróleo, diamantes, água, terrenos férteis, pesca, praias, tudo; mas não estão explorados. E só dessa exploração é que resulta a criação de riqueza. E, portanto, Angola não é um país rico. Depois a prioridade é criação e emprego e rendimento para as famílias. Esta é a grande prioridade. A terceira nota é face à escassez de recursos. Nós temos que nos concentrar em área limitadas, não podemos ir a todas, como se diz genericamente. E, finalmente, após três anos de recessão económica no PIB, com a população a crescer 2.5% ao ano, temos a noção de qual foi a redução do PIB per capita que ocorreu nos últimos 3 anos. Angola precisa de crescer próximo dos 10%, 7% ou 8%. Agora, crescimento de 2% é condenar, ou continuar a condenar, Angola à pobreza.”
 
De acordo com Luís Todo Bom Angola deve se focar “num número reduzido de eixos de intervenção” sugerindo 4 eixos prioritários de desenvolvimento: “maximizar as receitas em divisas provenientes do petróleo. O petróleo continuara a ser, nos próximos anos, o grande agente de produção de dívida. Portanto, a primeira prioridade é maximizar as divisas provenientes do petróleo. A segunda é atingir autossuficiência alimentar. Não há nada pior que um povo com fome e há zonas de fome em Angola. A terceira é criar empresas nacionais de razoável dimensão e eficiência. E a quarta atrair grandes empresas internacionais e investimento estrangeiro. Digamos, no fundo, para explorar, para potenciar e para acelerar o desenvolvimento empresarial de Angola.”