Coleção “Novo Cancioneiro” de Maria de Jesus Barroso
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Coleção “Novo Cancioneiro” de Maria de Jesus Barroso
Publicado em 08-12-2017

Demos nota do lançamento do livro “Crónica de uma amizade fixe” de Vitor Ramalho, onde a amizade foi o mote da apresentação. Nessa amizade existiu, também, uma mulher, Maria de Jesus Barroso que a UCCLA aqui assinala, e não poderia deixar de registar, com a coleção de poemas “Novo Cancioneiro”.

Entre os vários poetas assinalados nesta coleção, encontra-se também um livro de um dos maiores escritores de São Tomé e Príncipe, Francisco José Tenreiro. Poeta e ensaísta foi voz da mestiçagem, da negritude e da africanidade, e deu expressão ao homem negro global e à 'nova' África. É uma das figuras de maior destaque na cultura e na história de São Tomé e Príncipe no século XX. (in RTP Ensina). No seu livro, que compõe esta coleção, publicado em 1942, apela ao respeito de todas as raças: “nasci do negro e do branco / e quem olhar para mim / é como se olhasse / para um tabuleiro de xadrez” (…) “E tenho no peito uma alma grande, / uma alma feita de adição”.  
 
 Livro de Maria de Jesus Barroso  Livro de Francisco Jose Tenreiro
 
Poesia Francisco Jose Tenreiro1  Poesia Francisco Jose Tenreiro2  Poesia Francisco Jose Tenreiro3
 
O Novo Cancioneiro tem poemas ditos por Maria de Jesus Barroso e música de Luísa Amaro com Gonçalo Lopes.
 
Esta coleção de poesia “Novo Cancioneiro”marcou, nos anos 40, oposição política e estética ao salazarismo. Depois de terem sido publicados em Coimbra, os cadernos de poesia agrupados sob a designação genérica de Novo Cancioneiro foram reeditados pela althum.com. A coleção durou entre 1941 e 1944 e ficou como um marco do movimento neorrealista em Portugal, embora os poetas nela agrupados tenham seguido caminhos diferentes e alguns se tenham distinguido depois noutros géneros literários.
 
 
O Novo Cancioneiro reuniu, nos anos 40 (em plena II Guerra Mundial) um conjunto de jovens inspirados pelos princípios do neorrealismo: aliavam uma poesia com marcadas preocupações sociais a uma atitude política de oposição ao salazarismo. Na coleção couberam títulos tão diferentes (e desiguais) como Terra, de Fernando Namora, Poemas, de Mário Dionísio, Sol de Agosto, de João José Cochofel, Aviso à Navegação, de Joaquim Namorado, Os poemas de Álvaro Feijó, Planície, de Manuel da Fonseca, Turismo, de Carlos de Oliveira, Passagem de Nível, de Sidónio Muralha, Ilha de Nome Santo, de Francisco José Tenreiro e Voz que Escuta, de Políbio Gomes dos Santos.
 
Teve, porém, uma repercussão importante, ampliada por vozes como a de Maria Barroso, que diziam poemas dos jovens então revelados em inúmeras sessões promovidas em coletividades populares um pouco por todo o país. Como escreveu Eduardo Lourenço, "com o tempo que dela nos separa, a geração do Novo Cancioneiro será para os jovens poetas de hoje pouco mais que lembrança brumosa. Para os que foram seus contemporâneos, pura nostalgia".
 
 
 
«Com o tempo que dela nos separa, a geração do «Novo Cancioneiro» será para  os jovens poetas de hoje pouco mais que lembrança brumosa. Para os que foram seus contemporâneos, pura nostalgia. Sem ter deixado, como «Orpheu» ou mesmo «Presença», um rasto tão mítico, essa coleção de poemas dos primeiros anos - quarenta, inaugurou, entre nós, uma época de poesia assumidamente «militante» que ficará conhecida, quando alargada à ficção, pelo nome de «neo-realismo». 
Meio século depois a voz clara naturalmente dramática de Maria Barrroso ressuscita esse lirismo voluntarista de jovens poetas [...] Que mais não tivesse sido, o longínquo momento «Novo Cancioneiro», encarnou, como barca colectiva de poetas «próximos» do que há mais de meio século nã tinha voz própria, o clamor silencioso do Povo, dos «humilhados e ofendidos», que lhes serviriam de musa. E que com o tempo e a voz apaixonada de Maria Barroso e o sábrio comentário musical de Luísa Amaro se tornou recuperável nostalgia.»
Eduardo Lourenço 
 
 
Maria de Jesus Simões Barroso Soares nasceu em Maio de 1925, no Algarve, Portugal. Foi atriz, professora e ativista política e social portuguesa. Licenciada em Histórico-Filosóficas, com o curso de arte dramática do Conservatório Nacional; Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro, pela Universidade de Lisboa e pelo Lesley College de Boston. Foi agraciada com 28 condecorações e outras distinções académicas e honoríficas de que destacamos a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade [Portugal]. Pedagoga, deputada, fundadora do Partido Socialista. Pertenceu a 31 organizações nacionais e internacionais. Foi presidente da Pro Dignitate - Fundação de Direitos Humanos e da Fundação Aristides de Sousa Mendes. Maria Barroso faleceu aos 90 anos de idade, no dia 7 de julho de 2015.