Brasileiro Itamar Vieira Junior vence Prémio Leya
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Brasileiro Itamar Vieira Junior vence Prémio Leya
Publicado em 17-10-2018
O romance “Torto Arado” da autoria do brasileiro Itamar Vieira Junior venceu a edição 2018 do Prémio Leya, o prémio literário português mais importante e com um valor de 100 mil euros.
 
O júri distinguiu a forma como o universo rural do Brasil e o âmbito patriarcal são retratados nesta obra do escritor. "Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais", justifica o júri, que acrescenta que o livro premiado "destaca-se pela qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o autor". Daí que, refira a ata do júri, a 10.ª edição do Prémio Leya tenha sido concedido por unanimidade.
 
Estavam a concurso 348 originais provenientes de 13 países, dos quais foram selecionadas sete obras para a decisão final segundo referiu o administrador da Leya, Isaías Gomes Teixeira, sendo a mais concorrida a nível de nacionalidades, tendo chegado originais de Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, EUA, China e da Islândia, entre outros países.
 
Além de autor, Itamar Vieira Junior é geógrafo de formação e doutorado em Estudos Étnicos e Africanos. Nasceu em 1979 e é natural de São Salvador da Bahia.
 
É também finalista do prémio Jabuti na categoria de conto. "Uma coincidência interessante" afirmou Manuel Alegre, presidente do júri. A sua obra consta de livros de contos,Dias (2012) e A Oração do Carrasco (2017), tendo publicado alguns dos seus trabalhos em revistas especializadas em França e é colunista da São Paulo Review.
 
O presidente do júri, Manuel Alegre, fez questão de destacar que "nunca houve tantos finalistas não portugueses como este ano", sendo que entre as sete obras finalistas estavam três autores moçambicanos e dois brasileiros. Para o poeta a obra premiada traz a revelação de um novo autor, que é conhecido como escritor, e é a vez em que apareceram mais autores de língua portuguesa não portugueses e isso é novo." Para Alegre "tem havido edições com mais ou menos leitores e relevância pública, mas há que ter em conta que foram revelados vários e muitos outros finalistas que foram publicados."
 
A obra premiada distinguiu-se das restantes logo ao início segundo o membro do júri Nuno Júdice: "Era um romance bastante sólido, praticamente terminado e com uma grande consistência de escrita."
Itamar Vieira Junior é um escritor que está fora do circuito de São Paulo e Rio de Janeiro, referiu o novo membro do júri brasileiro Paulo Werneck, que desconhecia o autor: "O que chama mais à atenção é o seu domínio da técnica narrativa e todos tivemos a certeza de estar perante um autor maduro. Até à abertura do envelope existia no júri a dúvida sobre se não seria um escritor conhecido." A revelação de novos nomes além dos consagrados, diz, é um dos benefícios do Prémio Leya: "Agora quero conhecer este autor que trata de uma narrativa muito importante sobre uma parte do Brasil rural, um mundo difícil e que marca também a vida do país."
 
Antes deste autor já venceram o Prémio Leya o escritor brasileiro Murilo Carvalho, o moçambicano João Paulo Borges Coelho, e os portugueses João Ricardo Pedro Portugal, Nuno Camarneiro, Gabriela Ruivo Trindade Portugal, Afonso Reis Cabral, António Tavares Portugal e João Pinto Coelho.
 
O Prémio Leya tem como objetivo distinguir um romance inédito escrito em português. A primeira edição realizou-se em 2008, pouco depois da aquisição por parte do grupo Leya de quase duas dezenas de editoras, e aceita originais de todos os países da lusofonia. O prémio só não foi atribuído por duas vezes, em 2010 e 2016, devido ao júri considerar que as obras a concurso não tinham o nível que o galardão exige.