Oferta da coleção de livros da Casa dos Estudantes do Império

Oferta da coleção de livros da Casa dos Estudantes do Império

A Casa de Angola, em Lisboa, foi o palco escolhido para a cerimónia de entrega da coleção integral dos 22 volumes que os então jovens estudantes universitários associados da Casa dos Estudantes do Império (CEI) publicaram na coleção Autores Ultramarinos e que a UCCLA reeditou por ocasião da homenagem aos associados, em conjunto com o jornal SOL.
 
O evento, que decorreu no dia 18 de abril, contou com a participação do Secretário-geral da UCCLA, Vitor Ramalho, uma das associadas da Casa e que faz parte da Comissão Organizadora e Científica da homenagem aos associados da CEI, Aida Freudenthal, e do representante da Casa de Angola, Zeferino Boal, e contou com a presença de diversas pessoas interessadas nas histórias e nas memórias da Casa.
 
    
 
A essa coletânea de 22 volumes acrescentou-se um trabalho da Professora Inocência Mata que, também, foi distribuído gratuitamente.
 
Na ocasião, Zeferino Boal, agradecendo a presença de todos, afirmou ser uma honra a Casa de Angola acolher esta iniciativa. Deu a conhecer um pouco da história da instituição e apelou à adesão de novos associados.
 
  
 
Vitor Ramalho confessou ter tido o “privilégio de conviver de perto, durante muitos anos, com algumas das pessoas que pertenceram à Casa dos Estudantes do Império e que me ensinaram, digamos, a importância que essa instituição teve na formação de grandes escritores e na formação política de grandes dirigentes sobretudo africanos e, nesse sentido, procurei inteirar-me sobre a Casa”. 
 
Para o responsável, que chegou a Portugal em 1965 (ano em que a Casa foi extinta pela Pide), mesmo não tendo participado na Casa foi “ouvindo os mais velhos e convivendo com eles muito de perto” que ponderou “um dia, se tivesse possibilidades, concorrer para a repescagem da memória coletiva deste espaço de língua portuguesa e, que no fundo, foi um espaço de liberdade que criou grande generosidade, em termos dos objetivos do futuro, a todos os jovens que então se proponham desenvolver”, o de continuar os estudos superiores.
 
Vitor Ramalho falou dos 22 volumes integrados na Coleção Ultramarina sendo que “grande parte desses escritores são referências incontornáveis dos países africanos lusófonos”, aos quais foi acrescentado um 23.º volume elaborado por Inocência Mata, Professora convidada da Faculdade de Letras de Lisboa, que fez a “resenha dos 22 volumes”.  
 
Destacando o papel dos intervenientes nestas publicações, Vitor Ramalho relembrou as diversas iniciativas que a UCCLA tem levado a cabo, desde outubro de 2014. Finalizou, realçando que o jornal SOL fez 40 mil exemplares.
 
 
Aida Freudenthal fazendo uma “leitura pessoal” sobre os livros, salientou que “foram muito importantes para as gerações que lhes deram origem”, ou seja “há um significado cultural muito profundo na Casa e na geração que passou pela Casa entre os anos 50 e 65” e constitui o “espelho de muita coisa do que se pensava, discutia (em voz baixa) e que não se ousava dizer em plenos pulmões”.
 
Destacou os dois primeiros volumes publicados - “Godido” do moçambicano João (Bernardo) Dias e “Linha do Horizonte” do caboverdiano Aguinaldo (Brito da) Fonseca - por terem sido “poetas, praticamente, esquecidos” e que “foram os primeiros publicados em 1951”. “João Dias faleceu com apenas 23 anos” fruto de uma tuberculose e Aguinaldo Fonseca por ser uma “pessoa tão discreta e que não valorizou tanto o trabalho que fez“.
 
Após um interregno de diversos anos - porque em “52 a Casa é sujeita à intervenção de uma comissão administrativa, que o Ministério das Colónias na altura nomeou” e até 57 a “associação limitou-se a ser uma fornecedora de comida e de alojamento para os estudantes e tudo o que era atividade cultural ou associativa, ficou restrita” - houve a “convicção de que, aqueles jovens tinham que recuperar a associação, juntando forças entre os vários representantes das diversas colónias”. De acordo com Aida Freudenthal, os anos de 57 e 58 foram de dinamização da associação e foi quando se pensou em criar “uma coleção de autores ultramarinos”. 
 
Os livros - poemas, canções, contos e prosas - foram, maioritariamente, escritos por escritores angolanos, estudantes em maior número na Casa. 
 
Aida Freudenthal destacou, ainda, pelos seus percursos e vivências os escritores Carlos (Manuel Nascimento) Ervedosa, José Craveirinha, Costa Andrade, Alfredo Margarido, Gonzaga Lambo, Henrique Abranches, Ovídio de Sousa Martins, Onésimo Silveira.
 
Finalizando Aida Freudenthal afirmou que os textos são “bons e, sobretudo, altamente reveladores do que foi a vida, os projetos e os anseios daquela geração”.
 
Publicado em 18-04-2016